Ano passado pela primeira vez pude conferir a tal VIRADA CULTURAL da capital de São Paulo . Nada programado. Fui visitar uma amiga de Ubatuba em São Bernardo do Campo e de lá saímos numa pequena turminha, assim, sem roteiro definido mas na rota da Virada. Eu queria ver Luís Melodia e os guiei ao Teatro Municipal. Antes eu e meus amigos São Bernadinos fomos dar uma espiada no palco instrumental, numa travessa da rua Direita em que o conterrâneo deles, Sir. Bocato, ia tocar. Aquele trombone é sem dúvida uma dádiva do Olimpo.
Chegamos ao Municipal uma hora antes do show do Pérola Negra começar e sem chances... A fila que se formara dava pra conseguir ingresssos apenas para o terceiro show da noite: Naná Vaconcelos ou Egberto Gismont, não lembro. Fiz muxoxo e quis ficar. Mas a turminha era turista e fomos conferir Cesária Évora na São João. Deu pra ver mas foi impossível cantar junto, ao menos pra mim que não conhecia o repertório da gaja. Fiquei de olho no público, então. Gente da nossa segunda idade e até da terceira, bem vestida e alimentada pequena-burguesia. Alguns encontros ubatubenses e voltei com a turminha que queria dormir deixando-os na estação Ipiranga do Metrô.
Sozinha resolvi que ia dar mais uma espiada no que estava rolando e lá no Sesc Ipiranga fiz minha segunda parada. Curti e dancei Sandália de Prata uma banda de samba-rock que pra mim foi o ápice da noite em termos de agitação somática enquanto aguardava o show de Fernanda Porto - já com o ingresso na mão - bonitinho mas sem o embalo e tesão da precedente rapaziada da favela do Capão Redondo. Saí dali e dei a maior sorte pois achei um estacionamento no coração do Anhagabaú por cinco pilas a noite toda. Ateus realmente existe.... Rapidamente montei um roteirozinho básico que incluia Mutantes às três da matina novamente na São João. Gente, gente e mais gente. Um mar de gente. Ninguém se acotovelando, mas um mar de gente e uma sinfonia híbrida de sons.
Quando cheguei à São João, esquina com a Ipiranga, onde inevitavelmente alguma coisa acontece com o nossso coração, Zé Ramalho havia acabado de tocar e nadei na contramão de um público que me fazia lembrar os divinos acampamentos da década de 80 em Trindade enquanto eu obstinadamente me dirigia ao gargarejo do palco. Uma hora de expectativa e tá lá a rapaziada tocando. Aiii, aiii! Eu vou sabotar! Decepção. Aquilo ali não era Mutantes. Era mutantes mutatis. Não os Mutantes que eu tinha na memória. Cadê a Rita Lee? Mutantes sem Rita Lee era um troço estranho e bucólico. Ao menos fosse Zélia Duncan... Quis ir conferir outras coisas mas como sair do gargarejo daquele show sem asas? Invoquei aos deuses que me dessem asas. Aprendi: gargarejos nunca mais! Só com Malvona, e em casa ou com asas.
Enfim. Licencinha, licencinha e mais licencinha e deixa eu dar uma tapinha nissso aí e outra licencinha e ô abra alas! que eu quero passar.... cheguei a galeria Olido.Ufa! Descansei nas performances que ali rolavam. Conheci gente, bati muito papo e me embriaguei de caras e rostos jovens. É. Bem jovens. Conferi. A única quarentona que ousava estar ali naquela hora era eu. Programa de fôlego pra moçada jovem. Fazer o que se à vezes esqueço minha idade? Ninguém me chamou de tia e dei por mim que era hora de ir embora.
Num mar de corpos alegres e felizes naveguei em direção ao meu fusca 85. Que delícia ver as ruas de São Paulo inundadas de seres saciados e inebriados de sons. Um ritmo a cada equina. Samba, rap, rock e repente. Pasmei: nenhuma confusão? Nenhuma abordagem inconvenientemente sacana? Nada de pancadaria? Nadica. São Paulo estava utopicamente feliz. E eu também. 5h15 da matina. No portão fechado do estacionamento havia um cartaz que somente agora agora eu lia: Fechamos às 5h. Nem tudo é perfeito...Como?! Eu e mais un três outros noctívagos vociferavam: Como?! Ralhamos, fiz um belo e timbrísitico discuro com o coro e liberaram meu fusquinha. Fui pra casa intactamente contente. A Virada havia me virado mais paulista. O Brasil era o melhor país do mundo e a canção nos unia.
Salve o compositor popular!
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Este post vai pra João Gilberto, Tom Zé, Dorival Caymi e pra TODA rapaziada que vamos nos encontrar na Virada de 2009.
CRICA, a CRIS
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Seguem alguns links com relatos doutras Viradas, doutras gentes que encontrei na net:
Comentários
Gosto sempre da recepção da sua casa, me sinto bem.
A gente vai se falando.
Beeeijo!
Mas tava assistindo no youtube comerciais de cervejas, e não vi nenhum negro no comercial da Itaipava.
Se acharem me falem.
desculpas, mas sei que não tem nada a ver.
Lamp
Como não assisto televisão não posso reponder com certeza. Mas até onde vi não lembro de negros em nenhuma propaganda de cerveja. Curioso... Será que minha memória é racista?
Ontem o jornal dizia que o sindicato das modelos e manequins estão exigindo cota de contratação para profissionais negras na Fahion Week. Inda estamos mal nesse apartheid cordial. Sou a favor das cotas pra tudo como estratégia de fazer o outro perceber o imperceptível mas inda acho que o buraco é mais embaixo.
Não concebo por exemplo como é que ainda há, principalmente na TV, propaganda de cerveja. Quanto as grife da Fahion Week, andar na moda pra mim é andar saudável e não com cara de anorexa. Então explicando pra confundir: como tudo tem dois lados, melhor os negros não se verem metidos nessa merda branca ideológica.
Bjcas
Também aprecio este horário, o melhor do dia.
Mas o encontro ficará nos devendo tua presença, uma pena que a gente precise trabalhar tanto assim.
Tô aguaradando o conto e sigo cobrando outros que sei hão de surgir.
Ontem fui assitir "Entre os Muros" tá rolando aí também? Muito bom pra engordar nossas reflexões sobre a crise da linguagem, do ensino e dos apatheids. Sala de aula é igual no mundo inteiro, acho. Boa pra refletir o que vai fora dela.
Bjcas aos mineiros. E viva o pão de queijo!
Enfim, quer saber mais sobre essa bambina promissora? Acessem o Blog dela www.todososvicios.blogspot.com
Tá linkado aqui ao lado também, é claro.
Bjcas Jéssica.
Eu também gosto muito da tua presença em minha casa.
Volte logo!
(...)
Percebi que a Jéssica é nova no pedaço! Nem tô na minha casa Jéssica, mas sinta-se à vontade. hehehe. Acho que a Cris não vai me chamar de folgado por isso. Depois passo pelo seu blog. Vou nessa pessoal. Até mais. =)