A vida vai boa. Um mistério dormir mal e acordar bem....
Nada de excepcional me aconteceu - é preciso que eu o diga. Atribuo esse bem estar talvez ao invernoso dia ensolarado que me remeteu a tempos, cheiros e lugares imemoriais, ou, quem sabe, a descoberta da prima narrativa joyciana em seu Dubliners que por duas ou três vezes hoje embarquei, ou quem sabe apenas ao mingau de cevadinha de meu desejum. Sabe-se lá, um beijo, donde vem...
********************************************************************
Sobre Joyce. Espanto.
Sereno e saboroso espanto.
A meta é Ulisses. Finnegans Wake é além-meta.
O caso é que ao mesmo tempo em que esta Dublin se descortina aflora-se em mim um algo.
Não há uma só linha que ali não me remeta a perfumes, sei lá do quê...
Andei cismando: "Será que Lacan - a alavanca desse encontro - também sentiu ou percebeu esse perfume?
A prosa quase seca - não árida - úmida - não encharcada - daquela esta Dublin.
Isso é literatura! É assim então que se conta algo! O conto que se conta! A misteriosa onisciência das palavras de um enunciador que ao não se enunciar, se enuncia! Trajeto honesto, sem caminhos excedentes! O objeto objetivo do objeto objetivo objeto! O cinema antes de todos os cinemas!
Um cenário, um tempo e personagens. Só. E tudo isso.
Dubliners.
Joyce.
Eu.
E um invernoso dia ensolarado cheio de perfumes...
CRIS
Comentários
porra, li uma frase no post que me fez lembrar um livro que li faz muito tempo, nem lembro da estória, mas lembro que gostei e muito.
"O beijo não vem da boca", eu sempre achei que independente de algumas coisas, o autor ainda vai ser reconhecido como escritor.
Acho o Loyola Brandão muito bom de ler.
Beijos que não vem da boca.
Mathias.
Shame's Choice é um velho companheiro: foi através dele que descobri a palavra enquanto brinquedo e a literatura enquanto playground.
Leio/releio Ulysses desde os meus 17 anos: 2 vezes na íntegra (sincronicamentee na tradução pioneira de Houaiss) e todas as inúmeras demais aleatoriamente, ao sabor do acaso (incluindo também a tradução da Bernardina). Até hoje me espanto/regozijo com as inesgotáveis surpresas embutidas nessa prosa surreal, críptica, deliciosamente maneirista!
Minha AUTONECROGRAFIA MEGALOMAQUINIZADA (http://autonecrobloid.blogspot.com/) foi inspirada pelo monólogo interior de Molly Bloom (que encerra magistralmente o Ulisses): fluxo não pontuado de palavras jorrando ininterruptamente - PENSAMENTO/PASSAMENTO/PASSATEMPO.
Contrariando totalmente o dogmatismo sectário dos joiçófilos ortodoxos (que com sua postura esotérica e elitizante pretendem manter Joyce refém de uma casta de iniciados pequeno-burgueses), vejo na obra dele um convite DEMOCRÁTICO ao gozo de ler, de escrever, de fabular desmesuradamente/desavergonhadamente, de experimentar com a musicalidade (melopéia, diria Pound) e com os múltiplos sentidos/significados (logopéia) das palavras: DESSACRALIZAÇÃO da linguagem, sodomização da gramática, ludismo sintático, neologíada (épica parturição de palavras novas)!
Entre os notáveis herdeiros das inovações joyceanas está, sem dúvida, o Ignácio (citado pelo Lamp) de Loyola Brandão: dele eu recomendo "ZERO" e "O ANÔNIMO CÉLEBRE" (este último eu recomendei pra meus ex-alunos de ensino médio lá em GYN e recomendo fortemente pra todos os interessados numa cáustica crítica contra a "sociedade do espetáculo").
...
ÔU : bacana o texto que a Adriana mandou pra vc colocar lá nas Cricas! Mas vem cá (pela bilionésima vez): vai ou não vai querer a logo nova pro blog, pê-Çoa InÇana? *rsrs
Há braços!
bjus
Wagner.
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=546AZL003
Lamp