"Emilio Granzotto – O senhor diz : o real não existe. Mas o homem médio sabe que o real é o mundo, tudo que o cerca, que ele vê a olho nu, toca.
Jacques Lacan – Livremo-nos também desse homem médio que, em primeiro lugar, não existe. É apenas uma ficção estatística. Existem indivíduos, é tudo. Quando ouço falar do homem da rua, de pesquisas de opinião, de fenômenos de massa e de coisas desse gênero, penso em todos os pacientes que vi passar pelo divã em quarenta anos de escuta. Nenhum, em qualquer medida, é semelhante ao outro, nenhum tem as mesmas fobias, as mesmas angústias, o mesmo modo de contar, o mesmo medo de não compreender. O homem médio, quem é? Eu, o senhor, meu porteiro, o presidente da República?
Emilio Granzotto – Nós falávamos de real, do mundo que todos nós vemos. Jacques Lacan – Justamente. A diferença entre o real, isto é, o que não vai bem e o simbólico, o imaginário, isto é, a verdade, é que o real, é o mundo. Para constatar que o mundo não existe, que ele não está aqui, é suficiente pensar em todas as banalidades que uma infinidade de imbecis acreditam ser o mundo. E convido meus amigos de Panorama, antes de me acusar de paradoxo, a apenas refletirem bem sobre o que leram. (...)Minha resposta a tudo isso é que o homem sempre soube se adaptar ao mal. O único real que podemos conceber, ao qual temos acesso é justamente este, será preciso arranjar uma razão: dar um sentido às coisas, como dizíamos. De outra forma, o homem não teria angústia, Freud não teria se tornado célebre, e eu seria professor de segundo grau."
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Abs!