Nesses quase 20 anos de militância na educação – bastante interrompidos, admito, por greves, muitas licenças saúdes e outros bichos, mas que também deram corpo e alma a essa militância- não discuto mais o principal: na escola, ou a gente lê, ou não lê. Secundariamente ela- a escola- poderia ser uma outra infinidade de coisas, também relativamente relevantes. Acontece... acontece que ninguém acredita mais nessa besteira, né? Escola é um depósito social como qualquer outro destinado a fazer coisas exatamente do avesso ao que se propõe no papel. Sem contar o nicho de eleitores facilmente encontráveis para a barganha de votos e espelhinhos...
Essa minha leitura da escola como espaço para patifarias, porém, não imobilizou minha ação nela. Vou lá, leio, empolgo-me com o que leio, priorizo a leitura e não sei o que os guris farão disso e também não quero saber. Não sou tão boa agitadora das letras quanto gostaria de ser. Não me formei nisso, infelizmente. Muito pelo contrário, se não me cuido, deformam-me também a leitora. Há, implicitamente, nas escolas - aqui estou falando do PSDB, que não exclui outras experiências agora defendidas pelo ardor no poder da democracia representativa - um programa de imbecilização do magistério. Você tem que chutar a bola pra frente - atenta aos golpes baixos que estão sempre dispostos a desferir contra a tua formação e ação - e correr atrás de um gol que estará sempre mudando de lugar. E de sobra responder, ou calar, ao teu amigo iletrado, muito mais tonto e atordoado que você te apontando pro mundo e resmungando que você está louca. Enfim, a gente e Focault sabemos a depósitos.
Leituras sobre a leitura em escolas é coisa muito, mas muito, muito chata de discutir. E sobre esse assunto eu poderia ouvir alguma coisinha, só alguma, bem pouquinha e se for bem concentrada também. Não quero saber da história, da história da leitura no Brasil, porque não há. Não quero ler dados ou gráficos. Tenho-os imprimidos em mim, perguntem-me. Experiências? Só se puderem prová-las. Tenho sono ao círculo vicioso dos acadêmicos que estão sempre a escrever sobre algo que nunca hão de experimentar - pois que no olho do furacão nunca hão de estar- e ojeriza a repertórios cheios de métodos e nenhuma prática e de discursos construídos em 3ª pessoa nesse setor. Então começo a falar sobre a leitura da leitura na escola pelo que não leio e pelo que não faço.
É possível que a leitura na escola seja prezeirosa? Sim, prazeirosa e singular. A leitura na escola tem um diferencial importantíssimo: ali, ela pode ser coletiva, partilhada, dividida. Não há tantos outros espaços onde esse socialismo aconteça: há muitas igrejas e seus textos dogmáticos, há grupos de teatros, poucos; há grupos de estudo e literários, quase nada. As dificuldades de leitura na escola resvalam nas intenções dessa leitura, visto que a neutralidade da pedagogia é mito. Numa sociedade de utilidades inúteis somam-se práticas docentes imitáveis. Daí o desprazer: quando ócio vira negócio. Inclusive Oswald de Andrade me disse que etimologicamente escola e ócio...
O problema é que embora no discurso ninguém vá te atacar por dizer que o príncipio da escola seja a leitura também não ousam defender esse princípio como um valor tão necessário ainda. O leite e as outras quinquilharias ainda o submete à escala de subgênero das necessidades humanas - estou falando de supérfluos. Penso que se leitores e livros fossem valores não estariamos aqui a discutir o óbvio nem a queimar livros. Sobre isso gostaria de discutir.
CRICA
Em tempo:
- Não. Eu não concordo que se distribuam nada além do que se possa ler nas escolas. Lá sou meio Jesus Cristo disposta a expulsar os vendilhões do templo. Sugiro que criem casas de distribuições de leite, uniformes, bolsas famílias e outras coisinhas que bons salários poderiam comprar e que nos deixem nas escolas ociosamente lermos em paz.
- O texto aí em cima saiu quase do útero. A questão é que há muito venho duvidando de escolas. Estou em crise. O que quer dizer que amanhã posso escrever um texto de como escola faz mal à leitura e proponha e que se ocupem definitivamente esse espaço para outras coisas.
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Lamp