Em julho estive por acaso na abertura da mostra em homenagem ao artista francês Duchamp no MAM Ibirapuera. Eu e minha filha Natália passávamos por ali quando um burburinho de gente bonita, bem vestida e com aspecto de importante entrava pela porta que se abria exatamente naquele instante. Não tivemos dúvida. Entramos junto com a boiada chique. Foi muito engraçado o que aconteceu ali conosco . Entramos hipnotizadas por aquela gente alta, branca, cheirosa e de dentes perfeitos mais os jornalistas, fotógrafos e pessoas que por todo canto iam sendo entrevistadas. Presentimos que estávamos metidas em algo muito importante no universo das artes. Porém como francamente sou uma analfaplástica de pai e mãe só saquei o lance Duchamp quando vi o urinol. Pra ser mais sincera só em casa - depois de uma pesquisa - é que entendi de verdade onde estivemos.
Fiquei pensando, depois de reler a história principalmente daquele urinol, como esse negócio das artes plásticas é engraçado. Então toda aquela gente chique estava ali para saudar um cara que expôs rodas de bicicletas e urinóis? Sei, sei. Vocês vão me dizer que não é bem assim, que a gente tem de fazer uma leitura profunda do sentido conceitual Duchamp na revolução das artes no século XX. Eu entendo, não sou tão parva assim.
Pois é, como não vejo tv em casa há quase dez anos fui ontem surpreendida pela Márcia – que pediu pra eu sair da cerca elétrica – com a notícia dos pichos na Bienal. Voltei de novo pra essa maquininha de fazer doidos chamada Google e descobri que só eu não sabia que a bienal ia ser invadida pelos pichadores. Até paredes em branco os caras deixaram lá pra ação! Ah eu tô viajando é? Então confere aí:
“o protesto foi feito, o andar estava “esperando” uma manifestação, no dia anterior a abertura um grupo de intervenção urbana colou nesse mesmo andar, stickers (adesivos) como forma de intervenção ao espaço institucional, pós esse ato na própria abertura a ação dos pixadores.”
Até a torcida do corinthians sabia da ação. Mas deixemos a minha mania de conspiração pra lá e continuemos com minha pesquisinha.
"Afinal, essa merda é arte? A frase-clichê aparece de tempos em tempos – talvez um dos picos de seu uso tenha sido quando Duchamp lançou urinóis e monociclos aos leões da crítica e do público. Enquanto o enxadrista franco-canadense é canonizado pelos brasucas nos 60 anos de MAM - depois de babar no urinol logo estarão batendo palma pra extintor de incêndio e dando bom-dia a cavalo… -, seus verdadeiros seguidores são pixados. Ou pichados. Enfim, com xis ou ch [não há consenso] .... " Ronaldo Bressane
"Pouca gente sabe, mas o estilo de letras criado pelos pichadores de São Paulo é cultuado na Europa. Existem livros na Alemanha que tratam exclusivamente da bela grafia das pichações paulistanas, com fotos e textos analíticos sobre o assunto. "
O menino Rafael, o bolsista, que no seu trabalho de finalização de curso lambuzou as paredes da Belas Artes já havia cantado a bola.
"A pixação foi tratada com propriedade em pelo menos dois trabalhos acadêmicos do curso de Sociologia da USP... "
Enfim. Os pichos estão espalhados por toda a cidade. Difícil caminhar por ela e não cismar com a intrepidez que os meninos atingem locais quase inatingíveis. Mas o que os pichos e os meninos querem dizer? Taí, já me fez formular uma questão. Se é arte? Duas. Para a primeira, penso que qualquer manifestação pública sempre traz um significado contingente, mesmo que eu não queira entendê-lo. Para a segunda, acho que quem resolve isso são aqueles caras bacanas que vi na mostra do Duchamp. Sigo pensando.
CRICA
Comentários
e essa tem dois esses.
abraço
RB
Obrigada você pelo texto e pelo toque.
CRICA