“Uma das lições políticas mais instrutivas, nos tempos de
hoje, seria saber o que pensam de si próprios esses milhares e
milhares de homens e mulheres que em todo o mundo tiveram
algum dia o retrato de Che Guevara à cabeceira da cama,
ou em frente da mesa de trabalho, ou na sala onde recebiam os
amigos, e que agora sorriem de terem acreditado ou fingido
acreditar. Alguns diriam que a vida mudou, que Che Guevara,
ao perder a sua guerra, nos fez perder a nossa, e portanto era
inútil ficar a chorar, como uma criança, o leite derramado. Outros
confessariam que se deixaram envolver por uma moda do
tempo, a mesma que fez crescer barbas e alargar as melenas,
como se a revolução fosse uma questão de cabeleireiro. Os
mais honestos reconheceriam que o coração lhes dói, que sentem
nele o movimento perpétuo de um remorso, como se a
sua verdadeira vida tivesse suspendido o curso e agora lhes
perguntasse, obsessivamente, aonde pensam ir sem ideais nem
esperança, sem uma idéia de futuro que dê algum sentido ao
presente.
Che Guevara, se tal se pode dizer, já existia antes de ter nascido, Che Guevara, se tal se pode afirmar, continuou a existir depois de ter morrido. Porque Che Guevara é só o outro nome do que há de mais justo e digno no espírito humano. O que tantas vezes vive adormecido dentro de nós. O que devemos acordar para conhecer e conhecer-nos, para acrescentar o passo humilde de cada um ao caminho de todos.”
Che Guevara, se tal se pode dizer, já existia antes de ter nascido, Che Guevara, se tal se pode afirmar, continuou a existir depois de ter morrido. Porque Che Guevara é só o outro nome do que há de mais justo e digno no espírito humano. O que tantas vezes vive adormecido dentro de nós. O que devemos acordar para conhecer e conhecer-nos, para acrescentar o passo humilde de cada um ao caminho de todos.”
José Saramago - in
Belo texto, né?
Gosto desse.
CRICA
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